quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Pelo de cão na venta

Eram 11:00h da manhã e eu aguardava a minha vez de ser fotografada numa rua no centro de Mem Martins. Tranquilamente aguardava junto da porta do estúdio.
 
Logo ao lado, existia uma porta residencial e logo em frente uma vivenda. Na vivenda vive um casal de reformados. Ela encontra-se  à  janela e ele junto ao portão.
 
A porta residencial abriu-se e de lá saiu um jovem entre os 18 e os 20 anos. Trazia um cão pela trela e uma escova de pelo.
 
Ambos (cão e jovem), deram dois passos e de repente o rapaz fixa a trela do animal e começa a escovar-lhe o lombo. Pelo por pelo, milímetro por milímetro de lombo, das patas, da barriga... e vá de largar ao vento. Montes de pelos e mais pelos. E escova e volta a escovar e larga e volta a largar pelos pelos ares.
 
Todos os observadores se entreolham e o jovem continua a escovar... e a escovar... e a escovar…  e libertar pelo,  pelo…. e pelo… Do alto da sua convicção de que está a fazer o que é certo, o jovem ignora completamente tudo o que o rodeia. Na verdade, naquele momento, ele preparava-se para dar um banho de prazer aos transeuntes.
 
No entanto a cabeça da senhora da janela, parece uma tombola do totoloto de tanto que giram os seus olhos, revira que revira, sopra que sopra.
 
Os pelos vão percorrendo caminho e às tantas...
 
É como que uma brisa fresca e suave que em vez de brisa nos traz pelos de cão em diferentes quantidades. A primeira reação é de zanga… mas aos poucos… Ora passa um ou dois pelos suaves que nos acariciam o rosto , ora vem um rolo deles que começa por se arrastar por cima das nossas pernas e depois lenta e suavemente vai deslizando até aos pés. Desliza para direita, desliza para a esquerda, vai rodando suavemente... Aos poucos deixamos de observar e simplesmente sentimos a suavidade desta massagem. O corpo vai-se deliciando e aos poucos começa,... ummm...ummmm. ummmm… quem acaba de chegar olha escandalizado e sem perceber o que se passa.
 
O vento vai dançando e os pelos obedecem de forma harmoniosa. Uns dirigem-se à face, outros aos braços, outros às pernas… E todo o corpo, todo mesmo,  vai sendo acariciado por uma espécie de pena extremamente fina e pequena...  aiaiai.. ummm...ummm. … É o mundo dos prazeres. De graça! Sem ter que ser pedido! Sem dramas! Sem birras! Sem cenas de ciúmes!
 
E ainda houve quem se atrevesse a pensar que escovar o cão no meio de uma rua movimentada e largar os pelos aos vento, poderia ser uma falta de educação e respeito pelos outros. Poderia poluir, poderia deixar lixo, poderia ser uma grande porcaria.
 
Ele há pessoas! Até doí de ingratas que são!